Saturday, April 21, 2007

Gosto de ser subsidiado.

Por isso gostava muito da festa da música. Ainda que esta não fizesse muito sentido. Mas ser subsidiado é sempre bom, e eu, gostava.

Não fazia muito sentido porque uma parcela muito significativa dos visitantes do CCB eram já os suspeitos do costume do São Carlos e da Gulbenkian. Perdia assim duplamente significado subsidiar esta plateia. Por um lado não faz sentido a promoção da música clássica junto de um público já frequentador de concertos, por outro, a carteira deste não costuma ressentir-se muito depois da compra do bilhete.

Restava então o público que, de facto, apenas frequentava concertos de música clássica por esta altura do ano. Mas ainda aqui existem problemas, a começar pelo nome do evento, “Festa da Música”. Ora, “Missa em Si menor de Bach” e “Festa” não podem ser conjugadas na mesma frase, é uma impossibilidade. Vejamos, “Ir ver a Missa em Si Menor é uma festa!!”, “Fui a uma festa ouvir a Missa em Si menor de Bach”, não faz sentido!! Já, por exemplo, “Hoje à noite a festa está por conta do Quim Barreiros”, faz sentido, ou então, “O Quim é uma festa!”, também. Se quisermos, a música clássica pode ser vendida como puro entretenimento mas, sinceramente, para isso mais vale a Ivete Sangalo do que a A Canção da Terra de Gustav Mahler. À música clássica está reservado um cantinho, o da reflexão, da transcendência (odeio esta palavra). Quem tentar vender isto como festa está condenado ao fracasso.

Mas ser subsidiado é sempre bom e por isso gostava mesmo muito da festa da música.