Monday, October 16, 2006

Música e Cinema: Morte em Veneza

Há um mês atrás o crítica de música escolhia a expressão “Do Sublime" para título de um post sobre as sinfonias de Gustav Mahler . Não é também sem propósito que Visconti recorre à música deste compositor na sua adaptação para filme deste romance de Thomas Mann. Onde transforma a figura original do escritor Gustav Aschenbach em compositor.

Não deveria arriscar dizer isto, mas não consigo deixar de o fazer: este filme possui um dos mais belos inícios da história do cinema. Aschenbach, de barco, chega a Veneza que ainda amanhece lenta, escura. No céu cor de chumbo, apenas roseado pelos primeiros raios de luz, um pequeno rastro do vapor dos motores da embarcação. A completar o cenário o Adagietto da sinfonia nº5 de Mahler: o belo em todo o seu esplendor, o belo que é a figura central do romance, que é anúncio de uma desgraça que se adivinha.

Thomas Mann é um gigante, leiam.

Morte em Veneza é a história de um escritor que acredita na existência do belo enquanto uma entidade ideal, divina, à qual o artista deve aspirar. É a história de um escritor que renega a arte enquanto mero fruto dos sentidos, construída sobre as paixões humanas e por isso mesmo finita, edificada sobre a ausência do absoluto, da verdade que dignifica o Homem.
Mann conta-nos a história deste conflito personificado em Aschenbach, retrata-nos a sua decadência, até à queda final.

Mahler Sinfonia 5

Adagietto
Filarmónica de Berlim - Sir Simon Rattle