Monday, October 30, 2006

100 Posts de música: iuuhuuuuuu!!!!!

Thursday, October 26, 2006

Oliver Messian – Quatour pour la fin du temps

O que esperar de uma obra com este título? O que esperar de uma música escrita num campo de prisioneiros da Segunda Guerra Mundial? Um grito de revolta? Desespero? Desorientação, turbulência? Isto era aquilo que, pelo menos eu, ansiosamente procurei quando pela primeira vez ouvi este quarteto.
É no entanto um grito de paz, a eterna paz que se seguirá ao final dos tempos. O próprio Messian explica:

“In the name of the Apocalypse, my work has been criticized for being too calm, too bald. My detractors forget that the Apocalypse does not contain only monsters and cataclysms: we also find silence of adoration and marvellous visions of peace. Moreover I never intended to make an Apocalypse; I began with a figure I loved (that of “The Angel who announces the end of Time”)
(…)

A final remark. My “Quartet” comprises eight movements. Why? Seven is the perfect number, the creation lasting six days, sanctified by the divine Sabbath; the seven of this rest day continues into eternity and becomes the eight of unfailing light, unfailing peace.”
Oliver Messian

Trata-se assim de um testemunho de optimismo contrastante com a maioriria da arte concebida após a Segunda Guerra Mundial, e em geral durante todo o século XX. É o testemunho de um (verdadeiro) cristão, consciente da existência de um sentido último do real, não imanente à própria história,não concretizável na dimensão em que nos movemos, mas antes fundamentado no trascendente, no que esta para lá, no “extra-histórico”.

Há algum tempo que uma obra não me entusiasmava tanto. Deixo aqui o meu andamento preferido (que se pode ouvir no fonógrafo e abaixo comentado pelo compositor).
Louange à L’immortalité de Jésus
“Extensive solo for the violin, the counterpart of the cello solo in the 5th movement. Why this second laudation?* It is addressed more especially to the second aspect of Jesus, to Jesus the man, to the Word made flesh, who rose from the dead and became immortal, giving his life for us. It is full of love. Its slow ascension to the highest notes represents man’s ascension towards his God, that of Son of God towards his Father, that of the divinized being towards Paradise”

Oliver Messian
*O 5º andamento - Louange à l’éternité de Jésus.

Quartet For The End Of Time

Praise to the Immortality of Jesus

Wednesday, October 25, 2006

Vieram comigo ontem...


A missa em Si menor é uma clara desobediência a um post anterior. Mas a sua presença em qualquer discoteca que se preze é absolutamente obrigatória.
Leonhardt é o pioneiro das interpretações historicamente informadas, as suas gravações constituem momentos históricos não só de discografia mas verdadeiramente artísticos.
Até Gustav Leonhardt, e após a recuperação de Bach pelas mãos de Mendelsohnn, apenas podíamos ouvir a obra deste compositor através de um olhar moderno, Wagneriano mesmo. É com o musicólogo Holandês que se dá uma verdadeira revolução na compreensão e interpretação da música barroca, em especial do seu expoente máximo, Bach. Entra aqui uma questão de gosto pessoal, claro está, mas julgo que ouvir ao ouvir Karl Richter ou Karajan em contraposição a Leonhardt deixa claro que é neste último que a obra ganha mais sentido.
Desta interpretação há ainda mais uma nota interessante: Leonhardt dirige três dos seus discípulos mais importantes, Sigiswald Kuijken, Bartohld Kuijken e René Jacobs. Continuo a preferir Herreweghe, mas este CD é essencial.
Penderecki fica para amanhã.

Monday, October 23, 2006

As três grandes nonas





Bruckner -Sinfonia nº9

Feierlich, Misterioso
Scherzo. Bewegt, Lebhaft-Trio.Schnell
Adagio. Langsam, Feierlich


Filarmónica de Viena- Giulini

Monday, October 16, 2006

Música e Cinema: Morte em Veneza

Há um mês atrás o crítica de música escolhia a expressão “Do Sublime" para título de um post sobre as sinfonias de Gustav Mahler . Não é também sem propósito que Visconti recorre à música deste compositor na sua adaptação para filme deste romance de Thomas Mann. Onde transforma a figura original do escritor Gustav Aschenbach em compositor.

Não deveria arriscar dizer isto, mas não consigo deixar de o fazer: este filme possui um dos mais belos inícios da história do cinema. Aschenbach, de barco, chega a Veneza que ainda amanhece lenta, escura. No céu cor de chumbo, apenas roseado pelos primeiros raios de luz, um pequeno rastro do vapor dos motores da embarcação. A completar o cenário o Adagietto da sinfonia nº5 de Mahler: o belo em todo o seu esplendor, o belo que é a figura central do romance, que é anúncio de uma desgraça que se adivinha.

Thomas Mann é um gigante, leiam.

Morte em Veneza é a história de um escritor que acredita na existência do belo enquanto uma entidade ideal, divina, à qual o artista deve aspirar. É a história de um escritor que renega a arte enquanto mero fruto dos sentidos, construída sobre as paixões humanas e por isso mesmo finita, edificada sobre a ausência do absoluto, da verdade que dignifica o Homem.
Mann conta-nos a história deste conflito personificado em Aschenbach, retrata-nos a sua decadência, até à queda final.

Mahler Sinfonia 5

Adagietto
Filarmónica de Berlim - Sir Simon Rattle

Friday, October 13, 2006

Quatuor Mosaïques: Cuidado com estes tipos!


Thursday, October 12, 2006

Este Domingo na Gulbenkian

O cartaz deste ano da Gulbenkain é uma verdadeira constelação. Entre elas brilham algumas estrelas menos conhecidas, como é o caso do violoncelista Christophe Coin, que na qualidade de instrumentista e maestro actuará este domingo na Gulbenkian.
Christophe Coin actuou, ou foi discípulo, de nomes como os de Harnoncourt, Jordi Savall, Ton Koopman e Herreweghe. É mais habitual encontrá-lo em andanças pelo barroco ou pela música antiga mas de vez em quando aventura-se também pelos clássicos e mesmo pelos românticos, a sua gravação do concerto para violoncelo de Schumann ao lado de Philippe Herreweghe é aliás excelente.

Para além do óbvio atractivo da sua actuação em conjunto com Orquestra Barroca da União Europeia o programa é também ele muito interessante.
Temos concerto.

Schumann -Concerto para Violoncelo
Allegro. Nicht Zu Schnell
Adagio. Langsam
Finale. Vivace. Sehr Lebhaft

Orchestre de Champs Elysées - Herreweghe
Violoncelo - Christophe Coin

Quem melhor escreveu para...

...órgão? Bach

... cravo? Bach

... música sacra? Bach

... flauta? Bach

e tudo isto em quantidades industriais...

Será que isto quer dizer algo?

Wednesday, October 11, 2006

Regresso

Arvo Part é um dos mais destacados compositores contemporâneos. A sua música é contudo, paradoxalmente conservadora. Radicalmente inspirada na polifonia renascentista.
Como acontece com a maioria dos compositores, e embora se trate de um caso muito particular, também Arvo Part atravessou períodos diversos de criação. Começou por adoptar uma linguagem mais moderna, violenta, apaixonada. Parou. Dedicou-se ao estudo da polifonia francesa e somente depois de um longo período de retiro regressou à composição.
É curioso notar que este regresso ao passado é, afinal, frequente. Mesmo Beethoven, um dos mais arrojados compositores de todos os tempos, um Homem do ideal da Revolução Francesa, já no final da sua vida estuda os modelos de Bach e Haendel para compôr a monumental Missa Solene. Se quiserem pensar ainda um outro exemplo, lembrem-se de Liszt.

Beethoven e Arvo Part partilham assim algumas características interessantes: o estudo das formas mais antigas e a busca da espiritualidade através de textos religiosos após um período de forte criação renovadora.
Julgo que este regresso ao passado, este regresso a Deus, não é inocente e não é explicado pelo cansaço da idade, pelo confronto real com a morte ou o fantasma da sua presença, como é usualmente argumentado.
Passada a juventude, realizada a descoberta dos sentidos, quando tudo apaixona, onde tudo é excitação, chega finalmente o espaço necessário para que a razão possa, em plenitude, emergir do mundo sensível na sua procura pelo imutável, pelo que é eterno, seguro. Eis a razão do regresso ao modelos que nos chegam do passado, que atravessam séculos porque carregam consigo algo consituinte da própria condição de ser pessoa, independente das modas.

Eis o regresso a Deus.

Friday, October 06, 2006

Proposta do Dia (sim, outra...sim , duas no mesmo dia... sim, no mesmo CD)

Não consigo não partilhar isto.

Trio para clarinete "Kegelstatt". A interpretação de Brymer (o senhor do clarinete) é extraoridnária. Devorem este trio e sejam felizes, nem que seja por breves minutos. Acreditem, vale a pena. Os excertos lá estão no fonógrafo...

1. Andante 2. Menuetto 3. Rondeau. Allegretto
Kovacevich, piano
Brymer, clarinete
Ireland, viola

Proposta do Dia



A proposta de hoje é uma descoberta feita ontem. Trata-se do trio para piano K.502 de Mozart. Atenção especial para o Larghetto.

(Excertos no fonógrafo digital)



Beaux Arts Trio

1. Allegro 2.Larghetto 3. Allegretto

Música e Literatura - Post III

Passando diante de um dancing, vem-me embater no ouvi­do, soante, quente e bruta como o fumo da carne crua, uma violenta música de jazz. Detive-me um momento; aquele tipo de música, por muito que a detestasse, sempre exercera sobre mim um secreto fascinio. O jazz repugnava-me, mas preferia-o cem vezes a toda e qualquer música académica da época, com a sua selvajaria jovial e rude; tocava-me, a mim também, bem fundo no mundo dos instintos, exalava uma sensualidade cân­dida e franca.
Durante um momento, ali fiquei de narinas abertas a inspi­rar aquela música sangrenta, estridente, a farejar, enfurecido e lúbrico, a atmosfera daquela sala. Uma parte dessa música, a lí­rica, era piegas, sobre-açucarada e transbordante de sentimen­talismo, a outra, selvagem, caprichosa e vigorosa; no entanto, as duas partes co-existiam natural e pacificamente, e formavam um todo. Era uma música de decadência, na Roma dos últimos imperadores devia ter havido música assim. Claro que, compa­rada com Bach e Mozart e com a verdadeira música, era uma bela porcaria — mas porcaria também era toda a nossa arte, to­do o nosso pensamento, toda a nossa pseudo-civilização, assim nos puséssemos a compará-los com a verdadeira cultura. E esta música tinha a vantagem de uma grande sinceridade, de uma negritude atraente e não falseada, de um humor jovial de crian­ça. Tinha algo do negro e algo do americano, que a nós, euro­peus, se apresenta, em toda a sua pujança, com a frescura da adolescência e a ingenuidade da infância. A Europa tornar-se--ia também assim? Estaria já nesse caminho? Seríamos nós, ve­lhos eruditos e admiradores da Europa antiga, da verdadeira música e da verdadeira poesia de outros tempos, seríamos nós apenas uma minoria reduzida e idiota de complicados neuróti­cos, amanhã esquecidos e escarnecidos? Aquilo a que chamava-mos "cultura", espírito, alma, que apelidávamos de belo e sa­grado, seria mero espectro morto de há muito tempo e real e vi­vo apenas no crer de uns tantos loucos que somos nós? Quem sabe se pura e simplesmente nunca teria sido real nem vivo? Quem sabe se o que nos movia a nós, idiotas, nunca teria passa­do de um fantasma?
em,O Lobo das Estepes, Herman Hesse

Tuesday, October 03, 2006

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Monday, October 02, 2006

Ouvindo...


...para já sem opinião formada, a Canção da Terra de Gustav Mahler, com Pierre Boulez à frente da Filarmónica de Viena. De qualquer forma não devo ficar desapontado, na capa do CD diz que acabei de adquirir um Super Audio CD!! (O que é isso?)

São Carlos : As Quatro Sinfonias de Robert Schumann

Esta sexta a Orquestra Sinfónica Portuguesa apresentou-se sob a batuta de Donato Renzetti para interpretar a terceira sinfonia de Robert Schumann. Péssimo. As cordas soam mal, os naipes não comunicam uns com os outros, não há fluidez no discurso, as dinâmicas parecem uma escada.
Não compreendo como isto pode acontecer numa orquestra que se quer elitista. O São Carlos parece uma personagem de Eça de Queirós, cheia de pompa mas vazia por dentro.
O pior disto tudo reside contudo no facto de este teatro ser apoiado pelo Ministério da Cultura, que assim subsidia quem não precisa e paga para não haver divulgação.
Neste campo tenho de dar os parabéns à Metropolitana que, rodando o país, a preços bem mais acessíveis apresenta melhores interpretações que a Sinfónica Portuguesa.
Sempre que vou ao São Carlos prometo a mim próprio ter sido esta a última vez...