Wednesday, August 30, 2006

Mozart - Tesouros por toda a parte


Mozart tem disto. Quando se pensa que já o esgotámos, que já nada há a descobrir, encontramos entre as suas peças "menores"* perólas como estas:

Sinfonia Concertante K.364 - Andante (Obrigado mana!)


Sinf Conc in E flat, K.297b: 2. Adagio -

*o termo mais apropriado será menos conhecidas...

Friday, August 25, 2006

Uma das razões para ouvir Mendelssohn


'Nada pode impedir-me de apreciar e desenvolver tudo o que os grandes mestres deixaram atrás de si, porque não faria sentido para cada um recomeçar do princípio; mas é preciso que seja um desenvolvimento ao melhor nível das minhas capacidades e não uma repetição inútil do que já foi.'

Felix Mendelssohn-Bartholdy

Wednesday, August 23, 2006

Christian Zacharias - Mozart Piano Sonatas


Christian Zacharias é, mesmo para muitos dos ouvintes mais atentos da música clássica, um ilustre desconhecido . É uma pena.
Conheci-o também há relativamente pouco tempo, através da sua interpretação do Concerto para Piano no. 9 de Mozart com a Orquestra de Lausanne e, desde então, tenho procurado conhecer mais de perto a sua discografia.
Neste momento tenho junto do leitor de CD's o seu integral das sonatas para piano de Mozart. Julgo que ganhou um Diapason D'or, o que atesta a sua qualidade. Na minha sempre muito modesta opinião trata-se de uma leitura excelente, só atrás da de Brendel.
No fonógrafo digital fica uma amostra.

Thursday, August 17, 2006

MÚSICA

Acredito que existe uma verdade, um certo e um errado absoluto, imune às arbitrariedades do julgamento humano. Acredito que esta vida é uma dádiva que nos foi concedida, que a devemos utilizar em busca dessa verdade e que sendo esta feita por cada um de nós é necessariamente pessoal, única, irrepetível.

A música permite-nos, da melhor forma possível, partilhar dessas procuras individuais. É assim que tendo a encarar a música que oiço, como reflexos esparsos dessa verdade que procuro, que outros eventualmente encontraram antes de mim e que só a distância e selectividade do tempo permitiu sobreviver até aos dias de hoje.

Tudo o resto é mero jogo sonoro, interessante talvez, porventura intelectuamente desafiante, mas apenas puro entretenimento, como um qualquer programa de tarde de fim-de-semana.

Wednesday, August 09, 2006

Música e Literatura - Post I

Depois do chá, todos os velhos se recolheram, e até Susana foi descansar a gravidez. Ficaram na sala apenas ele, a poetisa e Raul, a ouvir Bach. E foi tal a distância a que se viu dos dois, refugiados e unidos numa fuga, sentiu-se tão incapaz para um voo assim, alto e diáfano, que quase renunciou. Valera-lhe o próprio orgulho ferido. Sem admitir a derrota, obrigara-o a permanecer ali atento a melodia que lhe arranhava a alma como um cilício. Por mais que fizesse, não conseguia sintonizar-se com o espírito criador que arrebatava os outros. A música, em vez de o libertar, humilhava-o.
- É extraordinário, não e? - perguntou Raul a voltar o disco, sem admitir sequer a negativa.
- Sim, de facto. Se bem que eu seja por mundos mais positivos, mais lógicos...
- Não há nada mais lógico do que uma grande obra musi­cal. Um largo de Haendel, por exemplo, é, como um templo grego, de rigor e simetria...
- Claro. Claro.
Novamente a grafonola começou a rodar e novamente o maldito Bach encheu a sala da lógica que ele não entendia. Era uma tocata, executada a órgão, pungente e alada.
- Eu, este Bach, francamente! É bom, sem dúvida. Mas confesso...
Os íngremes degraus de uma escada erguida da humildade humana a um céu cristão de bem-aventurança, causavam-lhe tonturas. A transcendência nele, não subia, descia. Reduzia-se a um pragmatismo de utilidade pessoal, a sua, apenas mascarado muito ligeiramente, conforme as circunstâncias. Uma força que o arrastasse sem apelo e o conduzisse, cego, através de mundos onde nada tinha a fazer senão entregar-se, ditoso por já não ser mortal, ou sê-lo purificadamente, acicatava-lhe apenas o instinto de defesa. E fechava-se como um ouriço, hostil a cada nota sedutora. «Conversas de Deus consigo próprio antes da Criação», chamara Goethe aquela música, isenta de sentimentos mesquinhos ou violentos. E nem mesmo por instantes ele podia renunciar às misérias da sua íntima natureza.
- Nao gosta?!
- Gosto. Isto e...
Ia a atacar o génio só com o desplante dos audaciosos, sem poder mais, quando felizmente as mãos de Catarina, piedosas ou enfadadas, fecharam o aparelho.
- Por hoje...
de Vindima, Miguel Torga
Abaixo fica a Passacaglia e fuga de J.S. Bach como uma sugestão possível e muito pessoal, para a obra que Raul e Catarina ouviam.


Música e Literatura - Post 0

Hoje dou início a uma nova rúbrica do fonógrafo. A bem da verdade esta terá começado há já alguns meses, com textos de Herman Hesse. É no entanto a partir de agora que tenciono que esta se torne um actividade regular e, por isso mesmo, é hoje oficialmente inaugurada.

Tentarei com que passem por aqui alguns excertos de obras que estão neste momento em cima da minha mesa de cabeceira e que estejam de alguma forma relacionas com esta arte maior que é a música.

Moacir Santos: Coisas

Coisa nº6

"Essa música é uma festa"

Tuesday, August 08, 2006

Luto para Moacir Santos



Faleceu um dos maiores compositores brasileiros do último século.


Aqui ficam alguns links:

As gravações de Moacir são uma raridade, quase impossíveis de encontrar. Desta forma, a melhor sugestão possível para conhecer a sua música é o projecto Ouro Negro. Gravado em 2001, o CD conta com alguns dos melhores instrumentistas brasileiros, faz uma breve viagem pelas principais composições de Moacir e contém nomes sonantes como os de Milton Nascimento, Gilberto Gil, Djavan e outros tantos.

Entre as suas músicas destacaria "as coisas". Moacir dizia que se os eruditos catalogavam as suas obras com opus, também ele faria o mesmo com "as coisas" que compunha, disto surgiu o álbum Coisas. Todas disponíveis em Ouro Negro.

Thursday, August 03, 2006

Christus


Não conheço muito da obra de Liszt. Sempre tive a sensação de que o virtuosismo das suas composições está mais destinado a quem toca do que a quem ouve, o que me manteve sempre pouco interessado.
Parece-me porém que esta mesma ideia não poderá ser empregue ao seu período de criação mais tardio, onde se inclui a oratória Christus.
Trata-se de uma oratória muito particular, com uma estrutura radicalmente diferente do habitual, onde extensos andamentos sinfónicos são por vezes intercalados com a simplicidade de um coro a capela. É porém um dos testemunhos de fé mais impressionantes que conheço, apenas comparável aos de Mendelsohn, Bach e Bruckner. Imprescindível.